29/01/2008

Insanidade e demência

Agarro uma cerveja, puxo de um cigarro e sento-me naquela cadeira, que está tão sozinha quanto eu.
Não sei se é para a cerveja que falo, se para o cigarro, se para a cadeira, ou se falo mesmo comigo, ali sentado na companhia dos meus vícios.
Procuro as perguntas certas, para ouvir as respostas que quero. Até que aparece a derradeira pergunta, a que evitamos fazer a nós próprios dia após dia.

- Quem és? Responde-me agora que estamos aqui só os dois, ou só tu, ou só eu.
- Sou o mesmo, que conheces, conheço, conhecemos desde sempre.
- Sim, o mesmo de sempre sem dúvida. Mas agora, qual és?
- Não percebo!
- Sim, és o alegre, o triste? O audaz, o covarde? O sonhador…?
- Esses todos, dentro de mim, agora.
- E como consegues?
- Não entendo!
- Como consegues ser triste com esse sorriso? Estar alegre com essas lágrimas?
- Não sei, talvez eu tenha dentro de mim várias pessoas, à espera para sair. Afinal de contas todas estas perguntas sou eu, és tu, somos eu que as fazemos, todas estas explicações, és tu, sou eu, somos tu que as procuramos.

O cigarro apagou-se, a cerveja acabou-se e esta conversa chegou a um fim. Apresso-me a pegar outra cerveja, acender outro cigarro, sentar-me na mesma cadeira. Quero retomar esta conversa. Mas falta algo, falta alguém para esta conversa, falto eu.

- O que te falta?
- Mas porque não continuamos a conversa anterior?
- Porque eu, tu, nós não queremos?
- Desisto! Não entendo!
- Não escolhemos as conversas que temos. Mas diz-me, o que queres? Todos sonhamos com o génio da lâmpada, se ele aparecesse agora, que lhe pedias?
- Pedia-lhe… não sei, diz-me tu, que és eu.
- Pedias felicidade?
- Não daquela que dura um momento e passo o resto da vida à procura.
- Saúde?
- Não, eu não quero uma vida sem limites, não vale a pena jogar se sabes o resultado.
- Pedias…


Não, não outra vez, porque é que estas alucinações acabam quando eu sinto estar perto de uma resposta?
Bebo a cerveja de um trago, apago o cigarro a meio, abandono a cadeira vazia.
Saio porta fora, procuro perguntas nas ruas escuras.
Volto, cansado da viagem, sem perguntas, sem respostas, mas volto.

Eu continuo à procura das perguntas, das respostas, em mim.

by: Culpado

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